sábado, 6 de fevereiro de 2010

O fim do mundo!

    

     Sempre anda sozinho, nu, sem direção. Às vezes ele pára, olha para frente, bocejos, arranha as costas e continua o seu caminho com os braços cruzados. Se um carro passa muito perto, sobe alguns centímetros sobre a calçada e continuar caminhando.  É expulso de um lugar e vai para o outro. Sem protestar. Às seis da manhã, você pode vê-lo em qualquer rua. O frio faz com que ele se abrace entre as pessoas que carregam sacos de arroz e jarros de água sobre suas cabeças. Não olha para ninguém e ninguém olha para ele. Quem está mais transtornado? O menino nu ou a sociedade que não  o percebe, que não tem recursos para recebe-lo em qualquer lugar como qualquer ser humano merece? Quem vive mais alienados?

     O garoto nu se tornou um símbolo do inconsciente impotente no Haiti. A impotência que já era visível, como a sua nudez antes do terremoto. Em cada ônibus, cada carro ou moto que passa, cada pedestre que atravessa, cada loja de móveis, o jovém está despindo as grandes palavras deste século: ajuda humanitária, cooperação, solidariedade.

    Despidos também os seus compatriotas, ricos e pobres. Depois de 12 de janeiro, abaixo de seus pés, escombros e fios, mas sua história já era assim bem antes do desastre. No centro de Porto Príncipe, perto do Palácio Presidencial, a vida inteira, alguns "loucos" vagavam nus, sem ninguém fazer nada por eles.


     Eles são poucos, mas existem. As ruínas do terramoto só fizeram eles aparecem mais. A imagem poderia ser usada por algum publicitário para mostrar uma propaganda que exalta a força, independência e liberdade da juventude, em qualquer situação.


    Teria muito sucesso em qualquer lugar exceto no Haiti.

 

3 comentários:

  1. Esses dias estava lendo uma reportagem sobre o mesmo Haiti. Esquecido pelo resto do mundo antes do grande terremoto do dia 12. O artigo se referia aos milhões que viviam muito abaixo da linha da pobreza, totalmente desamparados. Onde estavam todos esses politicos, astros do cinema e cantores que nunca fizeram shows em prol dos flagelados? Seria preciso um grande terremoto para mostrar ao mundo o quanto este povo sofre?

    PS: Essa foto me lembra as muitas publicadas pela Benetton!

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  2. Amican arrasou nas palavras... + o fotógrafo arrasou na foto!! Perfeita!

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  3. A pobreza, apesar de ser uma grande desgraça, talvez a maior da humanidade, virou parte de nosso cotidiano...

    Não precisamos ir para o Haiti ou por todos os lugares que nos últimos meses vem sendo castigados pelas forças da natureza...

    Debaixo de nossos olhos há muito mais pessoas morrendo de fome e frio do que se pode imaginar...

    E o que fazemos com isso??? Nada, afinal de conta isso é algo comum nos dias de hoje...

    Só nos mobilizamos quando as pessoas morrem em massa... vitimas de grandes desastres...

    Porém sequer deixamos uma lágrima cair pelas pessoas que morrem diaria e lentamente pela falta de nossas boas ações...

    Acho tudo muito triste, pois contra as forças naturais não temos poderes... somos impotentes, mas no que pdoemos fazer ao menos um pouquinho a cada dia somos mais cruéis do que a MÃE, somos omissos...

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